Declaração de Princípios e Alguns Elementos de Programa

Liga Comunista Internacional (Quarta-Internacionalista)

1. A revolução socialista mundial e a Liga Comunista Internacional (Quarta-Internacionalista)

A Liga Comunista Internacional (Quarta-Internacionalista) é uma tendência proletária, revolucionária e internacionalista que está comprometida à tarefa de construir partidos leninistas como seções nacionais de uma internacional democrático-centralista cujo propósito é dirigir a classe operária à vitória por meio de revoluções socialistas no mundo inteiro.

Só o proletariado, por meio da conquista do poder político e a destruição do capitalismo como um sistema mundial, pode criar a base para a eliminação da exploração e a resolução da contradição entre o crescimento das forças produtivas da economia mundial e as barreiras dos Estados nacionais. O capitalismo sobrevive apesar de ter, faz muito tempo, cumprido seu papel histórico progressivo de criar uma economia industrial moderna. Para manterem seu poder, as classes capitalistas nacionais devem explorar divisões nacionais, étnicas e raciais, as quais têm sido intensificadas desde a destruição da União Soviética. Potências imperialistas e blocos rivais cada vez mais hostis entre si devem oprimir os povos do mundo ex-colonial e aqueles ainda baixo o jugo colonial, empobrecer as massas do mundo, continuamente lutar guerras pela manutenção e redivisão dos mercados mundiais para tentar fortalecer a decrescente taxa de lucro, e tentar esmagar a luta revolucionária dos trabalhadores em qualquer parte que esta apareça. Em seu desvairado esforço final para manter seu poder de classe, a burguesia não hesitaria em levar a humanidade ao holocausto nuclear ou a uma opressão ditatorial de uma truculência sem precedentes.

Por sua parte, a vitória do proletariado em uma escala mundial poderia pôr uma abundância material inimaginável à disposição de necessidades humanas, criar a base para a eliminação das classes e a erradicação da desigualdade social baseada em sexo e a própria abolição da significância social de raça, nação e etnia. A humanidade pela primeira vez assumirá o controle da história e controlará sua própria criação, a sociedade, tendo como resultado uma emancipação do potencial humano inimaginável, e um avanço monumental da civilização. Só então será possível materializar o desenvolvimento livre de cada indivíduo como condição do desenvolvimento livre de todos. Como dissera Isaac Deutscher em seu discurso, “On Socialist Man [Sobre o Homem Socialista]” (1966):

“Nós não afirmamos que o socialismo resolverá todos os problemas da humanidade. Estamos lutando em primeira instância contra os problemas criados pelo homem e que o próprio homem pode resolver. Basta lembrar que Trotsky, por exemplo, fala sobre três tragédias básicas—fome, sexo, e morte—acossando ao homem. A fome é o inimigo que o marxismo e o movimento operário moderno enfrentam.... Sim, o homem socialista ainda será importunado pelo sexo e a morte; porém estamos convencidos que ele estará melhor equipado que nós para lidar mesmo com estes” [Tradução do texto em inglês].

2. A crise da direção operária

O sucesso ou fracasso da classe trabalhadora em alcançar a vitória depende na organização e na consciência das massas em luta, ou seja, na direção revolucionária. O partido revolucionário é a ferramenta indispensável dos trabalhadores para sua vitória.

A classe governante dispõe de um monopólio dos meios de violência, seu aparelho político e burocrático dominante, sua riqueza e conexões vastas, e seu controle da educação, mídia e todas demais instituições da sociedade capitalista. Contra tal força um Estado operário só pode ser criado por um proletariado completamente consciente de suas tarefas, organizado para cumprí-las, e determinado a defender suas conquistas contra a violência contra-revolucionária da burguesia.

Através da sua aquisição de consciência política a classe operária deixa de ser meramente uma classe em si e passa a ser uma classe para si, consciente de sua tarefa histórica de conquistar o poder de Estado e reorganizar a sociedade. Esta consciência não é gerada de forma espontânea no curso da luta de classes cotidiana dos trabalhadores; deve ser trazida aos trabalhadores pelo partido revolucionário. Por tanto, a tarefa do partido revolucionário é tornar o proletariado em uma força política suficiente, infundindo-o com a consciência de sua situação real, educando-o sobre as lições históricas da luta de classes, endurecendo-o em lutas cada vez mais profundas, destruindo suas ilusões, robustecendo sua determinação e confiança revolucionárias, e organizando a derrota de todas as forças bloqueando a conquista do poder. Uma classe operária consciente é a força decisiva na história.

O caráter indispensável da tarefa de forjar um partido de vanguarda e afiar seu gume revolucionário em preparação para as crises revolucionárias inevitáveis é ressaltado na época imperialista. Como Trotsky comentara em The Third International After Lenin [A Terceira Internacional Depois de Lenin] (1928):

“O caráter revolucionário da época não está no fato dela permitir a realização da revolução, ou seja, a conquista do poder em qualquer momento dado. Seu carácter revolucionário consiste em flutuações profundas e agudas e transições frequentes de uma situação imediatamente revolucionária.... Esta é a única fonte da qual provém o significado completo da estratégia revolucionária em distinção das táticas. Dali também provém um novo significado do partido e da direção partidária.... [Hoje] toda mudança abrupta na situação política à esquerda põe a decisão nas mãos do partido revolucionário. Se este desaproveita a situação crítica, a última torna-se em seu oposto. Baixo estas circunstâncias o papel da direção partidária adquiri uma importância excepcional. As palavras de Lenin enquanto ao fato que dois ou três dias podem decidir o destino da revolução internacional teriam sido quase incompreensíveis na época da Segunda Internacional. Em nossa época, pelo contrário, estas palavras tem sido confirmadas muito freqüentemente e, com a exceção de Outubro, sempre pelo lado negativo” [Tradução do texto em inglês].

3. Somos o partido da Revolução Russa

A Revolução Russa de outubro de 1917 tirou a doutrina marxista da revolução proletária do plano da teoria e deu-lhe realidade, criando uma sociedade onde aqueles que trabalhavam governavam através da ditadura do proletariado. Esta revolução proletária dirigida pelo Partido Bolchevique na Rússia não foi feita somente para a Russia. Para os marxistas revolucionários, a Revolução Russa foi vista como o começo de uma luta necessariamente internacional do trabalho contra o poder mundial do capital. Os bolcheviques de Lenin romperam a corrente capitalista em seu elo mais fraco, entendendo que, a menos que a revolução proletária fosse estendida aos principais centros capitalistas, de forma mais imediata à Alemanha, uma ditadura do proletariado isolada na Rússia não poderia sobreviver por muito tempo.

As oportunidades eram diversas, mas os partidos revolucionários fora da Rússia eram demasiado novos, ou seja, demasiado fracos e politicamente imaturos, para aproveitá-las. Na Europa, especialmente na Alemanha, a social-democracia serviu seus amos burgueses, ajudando a restabilizar sua ordem e juntando-se a eles em sua hostilidade à Revolução de Outubro. Em outras partes, nas nações e regiões menos desenvolvidas, o maior obstáculo ideológico e força contra o bolchevismo foi o nacionalismo.

A pressão do cerco imperialista, a devastação da classe operária russa na Guerra Civil e a isolação prolongada da Revolução Russa permitiram que uma camada burocrática dirigida por Stalin usurpasse o poder político em uma contra-revolução política em 1923-24, o que Trotsky chamou o “Thermidor Soviético”. A burocracia stalinista, enquanto apoiava-se nas formas de propriedade proletárias do estado operário degenerado soviético—e derivava seus privilégios das mesmas—não estava irrevogavelmente comprometida à sua defesa. A “teoria” de Stalin do “socialismo num só país”, expressando os interesses nacionalmente limitados da burocracia do Kremlin, transformou a Internacional Comunista de um instrumento da revolução mundial em um novo obstáculo.

O “socialismo num só país” de Stalin foi uma rejeição dos princípios fundamentais do marxismo. O Manifesto Comunista (1848) conclui, “Trabalhadores do mundo, uni-vos!” As revoluções de 1848 sinalizaram a abertura da era moderna—a burguesia enfrentada por um proletariado já considerado como uma ameaça ao poder capitalista mancomunou-se à reação. Como Engels escrevera em sua obra “Principles of Communism” [Princípios do Comunismo] (1847):

Pergunta 19: Será possível que esta revolução ocorra em um só país?

Resposta: Não. A indústria de grande escala já tem, ao criar o mercado mundial, ligado de tal forma todos os povos da terra, e especialmente os povos civilizados, que cada povo é dependente do que acontece com outro. Adicionalmente, a indústria de grande escala tem, em todos os países civilizados, nivelado de tal forma o desenvolvimento social que em todos estes países a burguesia e o proletariado passaram a ser as duas classes decisivas da sociedade e a luta entre elas passou a ser a principal luta atual. A revolução comunista não será por tanto meramente nacional.... Ela é uma revolução mundial é será por tanto mundial em extensão” [Tradução do texto em inglês].

Em oposição ao oportunismo nacionalista de Stalin, a Oposição de Esquerda de Trotsky foi fundada sobre o programa do marxismo autêntico que encorajou a Revolução Bolchevique. A Oposição de Esquerda lutou para preservar e extender as conquistas da Revolução Russa que havia sido traída mas não derrotada. Em sua análise incisiva da degeneração da Revolução Russa, o carácter dual da burocracia stalinista, e as contradições explosivas da sociedade soviética (The Revolution Betrayed [A Revolução Traída], 1936) Trotsky expôs a questão de forma severa: “O burocrata devorará o Estado operário, ou a classe operária varrerá o burocrata?” [Tradução do texto em inglês] A advertência profética de Trotsky foi vindicada, amargamente, na negativa.

A doutrina anti-internacionalista do “socialismo num só país” resultou em oscilações desastrosas entre aventuras ultra-esquerdistas e colaboração de classe. Trotsky caracterizou Stalin como o “coveiro” de lutas revolucionárias no exterior, desde a segunda Revolução Chinesa em 1925-27 e a Greve Geral Britânica de 1926 à Alemanha, onde o PC, assim como os social-democratas, permitiram que Hitler tomasse poder sem disparar um tiro. No contexto da traição na Alemanha, e a codificação subseqüente pelo Comintern da linha explicitamente anti-revolucionária de construir frentes populares, a qual achou sua expressão mais completa no criminoso enforcamento stalinista da Revolução Espanhola, os trotskistas organizaram a Quarta Internacional, que foi fundada em 1938.

A economia planejada na União Soviética (e nos Estados operários deformados que apareceram depois em outras partes baseados no modelo stalinista) provou sua superioridade sobre a anarquia capitalista no período de rápido desenvolvimento. Mas as incessantes pressões do contínuo cerco econômico imposto pelo modo capitalista de produção, que ainda dominava o mundo por meio do mercado mundial, foram implacáveis sem a extensão internacional da revolução. Trotsky escreveu em The Revolution Betrayed [A Revolução Traída]:

“A questão formulada por Lenin—Quem prevalecerá?—é uma questão sobre a correlação de forças entre a União Soviética e o proletariado revolucionário mundial de um lado, e o capital internacional e as forças hostis dentro da União [Soviética] do outro.... A intervenção militar é um perigo. A intervenção de produtos baratos nos trens de carga de um exército capitalista seria um perigo incomparavelmente maior” [Tradução do texto em inglês].

A debilidade organizacional, falta de raízes profundas no proletariado, e a incapacidade e confusão teórica da Quarta Internacional depois da Segunda Guerra Mundial contribuíram severamente ao rompimento da continuidade com o programa da Quarta Internacional de Trotsky. A decimassão prévia de quadros trotskistas em toda a Europa baixo a repressão fascista e stalinista—e os massacres de trotskistas no Vietnã e a prisão de trotskistas na China, países onde a Oposição de Esquerda encontrara bases de apoio significativas—privou o movimento de quadros experientes em um momento crucial.

A expansão do poder stalinista na Europa Oriental depois da guerra apresentou um novo desafio programático para o movimento trotskista, contra o qual a “ortodoxia” formal foi uma defesa insuficiente. Depois de uma série sem interrupções de derrotas e traições, da China (1927) e Alemanha (1933) à Guerra Civil Espanhola e as expurgas assassinas de Stalin, a existência da União Soviética corria grandes perigos. O Exército Vermelho derrotou Hitler apesar de Stalin quem—depois de decapitar as forças armadas soviéticas com suas expurgas sanguinárias às vésperas da Segunda Guerra Mundial—sabotou a defesa militar da União Soviética ainda mais através de sua fé primeiramente em Hitler e logo mais nos aliados “democráticos”.

Porém a vitória do Exército Vermelho contra o fascismo aumentou grandemente a autoridade da burocraticamente degenerada União Soviética, uma eventualidade que não fora prevista por Trotsky. Os stalinistas da Europa Ocidental saíram da Segunda Guerra Mundial nas direções das organizações de massa dos trabalhadores militantes da Itália, França, e outras partes. Enquanto isso, na Europa Oriental ocupada pela União Soviética, a propriedade capitalista foi expropriada e uma economia coletivizada foi estabelecida por meio de uma revolução social burocraticamente controlada, produzindo estados operários deformados no modelo da URSS governada pelos stalinistas.

Condicionado em parte pela Guerra do Vietnã e distúrbios internos abalando os EUA, entre eles a luta de libertação negra, o fim dos anos 60/começo dos anos 70 viram uma série de situações pre-revolucionárias e revolucionárias na Europa—França 1968, Itália 1969, Portugal 1974-75. Estas representaram as melhores oportunidades para a revolução proletária nos países capitalistas avançados desde o período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. Mais uma vez, foram os Partidos Comunistas pró-Moscou que conseguiram preservar a abalada ordem burguesa nessa região. Foi ali que o papel contra-revolucionário dos partidos stalinistas ocidentais contribuiu imensamente à destruição subseqüente da União Soviética. A restabilização da ordem burguesa nos Estados imperialistas ocidentais a meados dos anos 70 foi imediatamente seguida por uma nova ofensiva na Guerra Fria contra o bloco soviético.

A burocracia stalinista soviética—na ausência do proletariado como competidor pelo poder—teria cedo ou tarde que orientar-se ao “socialismo de mercado”, que, junto ao apaziguamento do imperialismo americano no Afeganistão e a medição da restauração capitalista na Europa Oriental, abriram as portas à contra-revolução capitalista na ex-União Soviética em 1991-92. O proletariado, sem direção, não resistiu, significando a destruição do Estado operário.

A “Revolução Iraniana” de 1979 abriu um período de um islame político ascendente no mundo historicamente muçulmano, um acontecimento que contribuiu à, e foi poderosamente reforçado pela destruição contra-revolucionária da União Soviética. A conquista e consolidação do poder de Khomeini no Irã foi uma derrota semelhante à devastação do proletariado Alemão em 1933 por Hitler, mesmo que numa escala mais estreita e regional. A palavra-de-ordem da Tendência Espartaquista Internacional “Abaixo o Xá! Nenhum apoio aos mullahs!” e nossa ênfase na questão da mulher (“Não ao Véu!”) levantaram-se em oposição pronunciada à capitulação do resto da esquerda à reação dirigida pelos mullahs.

A manutenção do poder proletário depende principalmente na consciência e organização política da classe trabalhadora. Depois da liquidação física da ala revolucionária dos bolcheviques por Stalin, toda continuidade com as tradições da Revolução de Outubro foi sistematicamente expungida da memória da classe operária. Na consciência de massa soviética, inundada pela propaganda nacionalista-russa disseminada por Stalin, a Segunda Guerra Mundial veio substituir a Revolução de Outubro como o evento chave na história soviética. Finalmente, Stalin e seus herdeiros conseguiram estampar sua visão nacionalista nos povos soviéticos; o internacionalismo proletário passou a ser menosprezado como uma obscura “heresia trotskista” de “exportação da revolução” ou em outros casos cinicamente privado de qualquer significado.

Atomizada e sem qualquer direção anti-capitalista, sem nenhuma consciência de classe socialista coerente e consistente, e céptica quanto a possibilidade de luta de classes nos países capitalistas, a classe operária soviética não tomou o partido da resistência contra a penetração da contra-revolução capitalista. E, como notara Trotsky em The Third International After Lenin [A Terceira Internacional Depois de Lenin]: “Se um exército capitula ao inimigo em uma situação crítica sem batalha, então essa capitulação toma o lugar de uma ‘batalha decisiva’, tanto na política como na guerra” [Tradução do texto em inglês].

Uma análise da crise terminal do stalinismo é exposta em Spartacist Nº45-46, inverno 1990-91 em documentos escritos por Joseph Seymour, “On the Collapse of Stalinist Rule in East Europe [Sobre o colapso do governo stalinista na Europa Oriental],” e Albert St. John, “For Marxist Clarity and a Forward Perspective [Pela claridade marxista e uma perspectiva progressiva],” e no panfleto espartaquista de agosto de 1993, How the Soviet Workers State Was Strangled [Como o Estado operário soviético foi estrangulado]. Como foi observado no documento de Seymour:

“Durante sua longa luta contra a burocracia stalinista Trotsky considerou uma série de caminhos diferentes pelos quais o capitalismo poderia ser restaurado na União Soviética.... Trotsky usou a frase ‘passando o filme do reformismo ao contrario’ para polemizar contra aqueles esquerdistas ostensivos que alegavam que o regime de Stalin havia transformado a URSS em um Estado burguês por meio de um processo gradual e orgânico—o bernsteinismo às aveças.... A visão de Trotsky que a contra-revolução capitalista, assim como a revolução política proletária, na Rússia de Stalin necessitaria de uma guerra civil era uma prognose, não um dogma. Estava baseado na resistência pela classe operária, não resistência pelos elementos conservadores do aparelho burocrático. É assim que a questão é colocada em The Revolution Betrayed [A Revolução Traída].... O elemento decisivo é a consciência da classe operária soviética, a qual não é estática mais é afetada por inumeráveis fatores variáveis doméstica e internacionalmente”.

Como St. John observou:

“Em contraste à anárquica economia burguesa a economia planejada socialista não é construída automaticamente mas de forma consciente. Por tanto, [Trotsky] escreve, ‘O progresso na direção do socialismo é inseparável daquele poder de Estado que quer o socialismo ou que está restringido a querê-lo [“The Workers State, Thermidor and Bonapartism,” “O Estado Operário, Thermidor e Bonapartismo”, 1935] [Tradução do texto em inglês]. Por tanto, ele concluiu, sem a intervenção de uma vanguarda proletária consciente, o colapso do regime político stalinista levaria inevitavelmente à liquidação da economia planejada e à restauração da propriedade privada”.

A “questão russa” tem sido a questão política definidora do século XX e a premissa básica para os revolucionários. Nós trotskistas mantivemos nossa guarda e lutamos para preservar e estender as conquistas revolucionárias da classe operária enquanto todas as outras tendências no planeta capitularam à pressão ideológica do anti-comunismo imperialista. Acima de tudo, nossa defesa da URSS estava expressada em nossa luta por novas Revoluções de Outubro no mundo inteiro.

Também são responsáveis pela destruição contra-revolucionária da União Soviética todo tipo de reformistas e centristas que se alinharam atrás de seus próprios governantes capitalistas contra a URSS, apoiando inclusive todo movimento reacionário desde o Solidarnosc polonês aos assassinos fundamentalistas islâmicos no Afeganistão. As consequências devastadoras e mundiais da contra-revolução soviética também destroem no plano teórico as teorias anti-marxistas que consideravam a burocracia stalinista “capitalista de Estado”, de acordo com as quais a contra-revolução soviética teria sido meramente uma mudança de uma forma de capitalismo a outra.

A ascendência de Boris Ieltsin e forças restauracionistas-capitalistas em agosto de 1991 foi um evento central na determinação do destino da União Soviética, mas a destruição final da Revolução de Outubro não era uma conclusão dada ou necessária. Os Espartaquistas distribuíram por toda a União Soviética mais de 100.000 copias em Russo de nosso artigo de agosto de 1991, “Soviet Workers: Defeat Yeltsin/ Bush Counterrevolution! [Operários soviéticos: derrotem a contra-revolução de Ieltsin e Bush!]” Nesse artigo escrevemos que mobilizações operárias deveriam ter varrido a escória contra-revolucionária nas barricadas de Ieltsin, abrindo assim o caminho para a revolução política proletária. Nós fizemos um chamado por uma revolução política para derrotar a restauração capitalista e retornar o proletariado soviético ao poder político. Somente aqueles que foram arrastados pela maré da ideologia capitalista ou suas remunerações materiais, estavam apressados para dar a União Soviética por perdida naquele momento. A falta de resistência por uma classe operária que havia sido traída e atomizada por décadas de governo stalinista e repressão feroz foi o fator decisivo na destruição do Estado operário soviético.

Nossa defesa da URSS não estava limitada ao nosso programa para a URSS: a defesa militar incondicional contra o imperialismo e a contra-revolução interna; pela revolução política proletária para derrotar a burocracia e retornar a URSS ao caminho de Lenin e Trotsky. Também esteve expressada em nossa defesa militar incondicional da Revolução Vietnamita; em nossa oposição à batida de Solidarnosc, patrocinada por Wall Street e pelo Vaticano, para derrubar o Estado operário deformado polonês; em nosso chamado “Viva o Exército Vermelho no Afeganistão—Extender as conquistas sociais da Revolução de Outubro aos povos do Afeganistão!”; em nossa intervenção ativa pela reunificação revolucionária da Alemanha.

A história dá seus veredictos em voz alta. A ascendência da contra-revolução na ex-URSS é uma derrota sem paralelo para os trabalhadores no mundo inteiro, alterando decisivamente a conjuntura política deste planeta. O imperialismo americano, sem a oposição do poderio militar soviético, proclamou um “mundo de uma super-potência”, marchando inescrupulosamente sobre povos semi-coloniais desde o Golfo Pérsico ao Haiti. Não sendo mais a potência econômica inigualada do imperialismo mundial, os Estados Unidos, todavia, ainda mantém a vantagem assassina de seu poderio militar, mesmo que freqüentemente prefere camuflar seu terror baixo a assistência “humanitária” da ONU, um “antro de ladrões” (a descrição de Lenin da predecessora da ONU, a Liga das Nações). Mas imperialismos rivais, especialmente a Alemanha e o Japão, sem as velhas restrições de uma unidade anti-soviética, estão seguindo rapidamente seus próprios apetites pelo controle de mercados mundiais e simultaneamente projetando seu poder militar. Nos conflitos entre blocos regionais de comércio, o contorno de guerras futuras está definindo-se. Frente a rivalidades inter-imperialistas crescentes, reafirmamos: “O inimigo principal está em casa!”

Examinando o período anterior à Primeira Guerra Mundial em retrospectiva, o “mundo pós-Guerra Fria” de hoje apresenta-nos com muitos paralelos . E com a questão de novos conflitos inter-imperialistas sendo apresentada, podemos esperar que os reformistas e centristas de hoje atuarão no espírito dos seus antecessores social-democratas do 4 de agosto de 1914 ao apoiar seus próprios governantes em tempos de guerra. Seu apoio à contra-revolução na URSS esteve totalmente nesse mesmo espírito.

Lado a lado ao empobrecimento em massa na URSS, o fratricídio de “limpeza étnica” varre os novos e fracos Estados capitalistas da Europa Oriental e das ex-repúblicas soviéticas onde a ideologia nacionalista substituiu o capital não existente como a força motriz da contra-revolução. A ideologia nacionalista, frequentemente um ressurgimento dos antagonismos nacionais do período anterior à Segunda Guerra Mundial nos Estados capitalistas desta região, passa a ser novamente, logo após da contra-revolução, o principal obstáculo que os revolucionários devem destruir.

Na Europa Ocidental a rede de segurança de medidas de assistência social está sendo eliminada pois as burguesias não vêm a necessidade de exorcizar o “espectro do comunismo” e fornecer o indispensável. Enquanto o clima ideológico da “morte do comunismo” afeta a consciência do proletariado, em muitos países do mundo, a luta de classes acirrada fornece uma base objetiva para a re-generação do marxismo como a teoria do socialismo científico e da revolução proletária. Não foi o comunismo, mas sim sua paródia, o stalinismo, que provou ser inviável.

A contra-revolução triunfante tem devastado não somente os proletariados ex-soviéticos e da Europa Oriental materialmente e ideologicamente; em uma série de países (por exemplo, Itália, França) onde os Partidos Comunistas contavam com a lealdade das camadas avançadas da classe operária, o proletariado tem sido enganado pela mentira de que o “socialismo fracassou”, promovida pelas burocracias stalinistas governantes que encabeçávam esses Estados operários deformados e presidiram sobre suas destruições. O Kremlin, encorajado pelos stalinistas da Alemanha Oriental, dirigiu a contra-revolução na RDA, às pressas para entregar o país ao Quarto Reich. A burocracia do Kremlin sob Gorbachev efetuou sua traição máxima e terminal, declarando que o socialismo havia sido um experiência utópica condenada e proclamando a superioridade do sistema capitalista de mercado. O PCUS em desintegração gerou gangues abertamente contra-revolucionárias dirigidas por Boris Ieltsin, que atuaram como agentes assumidos do imperialismo americano na restauração do capitalismo. Por tanto, as castas governantes stalinistas e seus companheiros no Ocidente foram completamente responsáveis pela destruição das aspirações socialistas das camadas proletárias avançadas no oeste europeu e em outras partes.

A declaração de Trotsky no Programa de Transição de 1938 que “A situação política mundial no seu conjunto caracteriza-se, antes de mais nada, pela crise histórica da direção do proletariado” é anterior à profunda regressão atual da consciência proletária. A realidade deste período pós-soviético dá uma nova dimensão à observação de Trotsky. A única forma em que esta regressão pode ser superada, e que a classe operária venha a ser uma classe para si, ou seja, lutando pela revolução socialista, é através da re-construção de um partido internacional leninista-trotskista como direção da classe operária. O marxismo deve mais uma vez conquistar a lealdade do proletariado.

Na China, a ideologia nacionalista extrema vendida pela burocracia stalinista governante é o caminho direto à restauração capitalista. A essência da contra-revolução de “reformas de mercado” na China é a burocracia tentando tornar-se sócia das forças capitalistas na exploração, especialmente dos capitalistas chineses que não foram destruídos como uma classe (como ocorreu com seus análogos russos depois de outubro 1917), mas que continuaram em operação em Taiwan, Hong Kong, Singapura e outras partes. A China tem criado “zonas econômicas especiais” como ilhas de exploração imperialista e mantém a revertida economia capitalista de Hong Kong intacta, enquanto o exército e a burocracia estão geralmente ocupados com empreendimentos capitalistas de grande escala. Atualmente a burocracia, seções da qual buscam tornar-se os novos exploradores capitalistas, aponta à destruição indiscriminada da indústria do Estado, consequentemente apresentando a possibilidade do desmantelamento do que resta da economia planejada do Estado operário deformado.

Este curso não pode ser seguido sem quebrar a resistência da classe operária militante. A burocracia stalinista governante mostrou em 1989 na Praça de Tiananmen—uma revolução política incipiente—tanto seu medo do proletariado como suas intenções de usar força bruta sem as restrições incômodas da “glasnost” (a “abertura” política do dirigente soviético Gorbachev). As opções para a China são a revolução política proletária ou a contra-revolução capitalista. O fator chave é direção revolucionária para re-introduzir a consciência de classe internacionalista que animava os fundadores do comunismo chinês de princípios dos anos 20. A batalha pela revolução política operária na China tem consequências enormes para os operários internacionalmente. O resultado terá um impacto gigantesco nos Estados operários restantes (Cuba, Vietnã, e Coréia do Norte) e também nos países asiáticos como a Indonésia, Coréia do Sul, Tailândia, Malásia e nas Filipinas, onde um proletariado jovem e militante tem aparecido como um fator poderoso.

4. As raízes teóricas e históricas da Liga Comunista Internacional (Quarta-Internacionalista)

Como Trotsky descreveu em seu artigo de 1937, “Stalinism and Bolshevism” [“Stalinismo e Bolchevismo”]: “épocas reacionárias como a nossa não só desintegram e debilitam a classe operária e sua vanguarda mas também rebaixam o nível ideológico geral do movimento e jogam o pensamento político a estágios muito tempo ultrapassados. Nestas condições, a tarefa da vanguarda é acima de tudo não se deixar levar pela maré retrógrada: deve nadar contra a corrente” [Tradução do texto em inglês]. Neste período pós-soviético, onde o marxismo é em grande parte identificado equivocadamente com o stalinismo, há um renascimento de todo tipo de coisas, de simpatias anarquistas ao idealismo e misticismo anti-materialistas. Karl Marx explicou “O sofrimento religioso é ao mesmo tempo a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo impiedoso e a alma de condições desalmadas. Ela é o ópio do povo. A abolição da religião como a alegria ilusória do povo é a demanda por sua alegria real. Chamá-lo a deixar suas ilusões sobre sua condição é chamá-lo a deixar a condição que requer ilusões” (“Critique of Hegel’s Philosophy of Right”, [Crítica à Filosofia de Direito de Hegel], 1844 [Tradução do texto em inglês]).

A Liga Comunista Internacional se baseia no materialismo histórico e dialético marxista, e continua as tradições revolucionárias do movimento operário internacional exemplificadas nos anos 40 do século passado pelo movimento cartista britânico e pelo partido polonês “Proletariado” (1882-1886), o primeiro partido operário no império czarista. Nós nos baseamos no trabalho de revolucionários como Marx, Engels, Lenin, Trotsky, Luxemburg, e Liebknecht. Acima de tudo, nos inspiramos na experiência do Partido Bolchevique a qual culminou na Revolução Russa de 1917, a única revolução feita pela classe operária até hoje. Esta história ilumina nossas origens, o que buscamos defender e aonde queremos ir.

Buscamos em particular continuar as perspectivas internacionais e operárias do marxismo como foram desenvolvidas em teoria e prática por V.I. Lenin e L.D. Trotsky, e expressadas nas decisões dos primeiros quatro Congressos da Internacional Comunista e pelo “Programa de Transição” de 1938 e outros documentos fundamentais da Quarta Internacional, como “War and the Fourth International” [A Guer ra e a Quarta Internacional] (1934). Estes materiais são a codificação documentária indispensável do movimento comunista internacionalmente, e são fundamentais para as tarefas revolucionárias de nossa organização.

Nesta época de putrefação avançada do capitalismo, nós os comunistas, que temos como nossa meta a conquista proletária do poder de Estado e a reconstrução da sociedade sobre uma nova base igualitária e socialista, somos ao mesmo tempo os defensores mais consistentes dos ideais do Iluminismo e das conquistas da revolução burguês-democrática: somos lutadores intransigentes pelas liberdades burguês-democráticas—pelo direito de portar armas; pela abolição de todo privilégio monárquico e aristocrático; pela separação do estado e a igreja; contra a imposição do fundamentalismo religioso como programa político; pela defesa da liberdade de expressão e reunião contra as transgressões do Estado burguês; contra “punições” bárbaras como a pena-de-morte; pela igualdade jurídica das mulheres e minorias.

Somos também defensores intransigentes dos direitos proletários como estão descritos no panfleto de James Burnham, “The People’s Front—The New Betrayal [A Frente Popular —a nova traição]” (1937): “Sob a democracia capitalista existe, em certa medida, um terceiro grupo de direitos que não são propriamente ditos, de forma alguma, ‘direitos democráticos’, mais sim direitos proletários. Estes são direitos como o direito de formar piquetes, entrar em greve, e organizar. A origem histórica destes direitos encontra-se em todos os casos na luta independente do proletariado contra a burguesia e o Estado burguês” [Tradução do texto em inglês].

Também nos inspiramos em James P. Cannon, um dirigente do jovem Partido Comunista americano que foi recrutado ao trotskismo durante o Sexto Congresso do Comintern e lutou para cristalizar uma formação trotskista, inicialmente no Partido Comunista, e arraigá-lo na luta operária. Cannon foi o fundador principal do Socialist Workers Party (SWP). Sua luta pela construção de um partido proletário, para forjar uma direção partidária leninista e coletiva (rejeitando o faccionalismo permanente do jovem PC e se opondo às intrigas de camarilha que afligiam, por exemplo, aos trotskistas franceses) e a luta de 1939-40 contra a oposição pequeno-burguesa no SWP (Shachtman e Burnham) que abandonou o trotskismo em uma luta sobre a questão russa—esta é a herança revolucionária que a LCI defende.

Mesmo que parcialmente e principalmente em seu próprio terreno nacional, Cannon lutou contra a corrente revisionista pablista que apareceu no movimento trotskista após a Segunda Guerra Mundial. Em nossos documentos básicos (ver especialmente “Genesis of Pabloism [Gênese do pablismo]”, Spartacist Nº21, outono de 1972), enquanto criticamos fortemente os erros dos anti-pablistas, tomamos seu lado nesta luta crucial pela sobrevivência do trotskismo. O pablismo tem como característica principal a rejeição da necessidade de direção revolucionária e uma adaptação às direções stalinistas, social-democráticas, e nacionalistas pequeno-burguesas existentes. Seguindo a criação de Estados operários deformados na Europa Oriental, Pablo prognosticou “séculos de Estados operários deformados” e afirmou que os partidos stalinistas poderiam “toscamente traçar uma orientação revolucionária”.

Mal equipados para explicar a extensão do stalinismo, Cannon e os trotskistas ortodoxos tentaram em primeira instância espantar conclusões liquidacionistas negando a realidade (por exemplo, recusando-se a reconhecer a China como um Estado operário deformado até 1955). Cannon lutou contra a rejeição de Pablo do proletariado como a única classe capaz de transformar a sociedade e sua negação da necessidade de um partido de vanguarda trotskista. Mas esta luta na realidade nunca foi completamente travada no plano internacional. A rejeição da centralidade proletária está por trás de todas as experiências—mais que nada vicariais—de Pablo (e posteriormente Ernest Mandel) com o revisionismo (por exemplo, a “via guerrilheira”, os estudantes como a “nova vanguarda de massa”).

As origens da Liga Comunista Internacional (QI) estão na Spartacist League/U.S. (SL/U.S.) que teve suas origens na Revolutionary Tendency do SWP e baseou-se principalmente no documento da Socialist Labour League, World Prospect for Socialism [Perspectiva mundial para o socialismo] (1961), e dois documentos da Revolutionary Tendency, In Defense of a Revolutionary Perspective [Em defesa de uma perspectiva revolucionária] (1962) e especialmente Toward the Rebirth of the Fourth International [Rumo ao renascimento da Quarta Internacional] (1963), o último tendo sido apresentado à Convenção do SWP de 1963. Em sua Conferência de Fundação em 1966, a Spartacist League/U.S. adotou uma Declaração de Princípios (veja Marxist Bulletin Nº9 da SL/U.S.) que serviu como modelo para esta Declaração Internacional de Princípios. A Liga Comunista Internacional, ao contribuir à clarificação teórica do movimento marxista e à reconstrução das armas organizacionais operárias necessárias, defende os princípios revolucionários e proletários do marxismo e os levará à vanguarda da classe operária.

“Por sua própria natureza o oportunismo é nacionalista, posto que apóia-se nas necessidades local e temporárias do proletariado e não em suas tarefas históricas.... Para nós a unidade internacional não é uma fachada decorativa, mas sim o próprio eixo da nossa visão teórica e nossa política” (Leon Trotsky, “The Defense of the Soviet Union and the Opposition” [A Defesa da União Soviética e a Oposição], 1929 [Tradução do texto em inglês]). Desde sua incepção como um punhado de jovens trotskistas expulsados burocraticamente do SWP, as práticas e ações da Spartacist League estiveram dirigidas na direção do renascimento da Quarta Internacional e contra a estreiteza norte-americana.

Em 1974 a Declaration for the Organization of an International Trotskyist Tendency [Declaração para a organização de uma tendência trotskista internacional] foi adotada, constituindo formalmente a Tendência Espartaquista Internacional (TEI). Esse documento atacou categoricamente as práticas federativas e não bolcheviques de nossos adversários pseudo-trotskistas, o SWP, o Secretariado Unificado, e o International Committee de Gerry Healy, todos os quais se escondiam atrás do tigre-de-papel da lei abertamente anti-democrática Voorhis Act norte-americana para evadir a prática do internacionalismo leninista e revolucionário. Em contraste, a TEI (predecessora da LCI) declarou clara e francamente que seria governada pelo princípio do centralismo democrático internacional.

A primeira conferência internacional delegada em 1979 elegeu um Comitê Executivo Internacional. Subseqüentemente a LCI tem alcançado sucessos modestos na extensão de nossa tendência à América Latina e África do Sul e extensões adicionais na Europa e Ásia. Este crescimento internacional tem sido um contrapeso vital às pressões deformativas causadas pelo fato de termos nossa maior seção sob o prolongado clima político relativamente reacionário dos Estados Unidos.

Em 1989 a TEI passou a ser a Liga Comunista Internacional (Quarta-Internacionalista).

O stalinismo arrastou a bandeira do comunismo pela lama e ao mesmo tempo corrompeu sistematicamente o entendimento de todo princípio e termos básicos do marxismo, e o nível geral de identificação do progresso humano com a idéia de comunismo, encontra-se em um relativo nadir. Mas a lógica do imperialismo capitalista gera novamente um ódio subjetivo incipiente contra a opressão entre milhões de pessoas no mundo inteiro. A ausência de uma direção genuinamente comunista é sentida intensamente por muitos e o programa do internacionalismo leninista pode ser apresentado com grande impacto.

Investimentos imperialistas em alguns países do “Terceiro Mundo” com baixos salários têm criado concentrações proletárias em áreas onde até recentemente grande conflitos entre o trabalho e o capital eram pouco prováveis. Em nosso esforço para continuar extendendo nosso partido além dos países ocidentais avançados, buscamos infundir nossa internacional com a coragem de bolcheviques com Kote Tsintsadze:

“Foram necessárias condições completamente extraordinárias, como o czarismo, a clandestinidade, prisão, e deportação, muitos anos de luta contra os mensheviques, e especialmente a experiência de três revoluções, para produzir lutadores como Kote Tsintsadze.... Os partidos Comunistas no ocidente ainda não criaram lutadores do tipo de Tsintsadze. Esta é sua debilidade persistente, determinada por rasões históricas mas apesar de tudo uma debilidade. A Oposição de Esquerda nos países ocidentais não é uma exceção neste respeito e deve tomar nota disto.

— Trotsky, “At the Fresh Grave of Kote Tsintsadze”, [Junto à recente sepultura de Kote Tsintsadze], 7 de janeiro de 1931 [Tradução do texto em inglês]

5. O carácter internacional da revolução socialista

A experiência histórica tem mostrado que o caminho ao socialismo só pode ser aberto pela criação do poder dual culminando na destruição do Estado capitalista e a vitória do Estado operário e o desenvolvimento de uma nova ordem social. A polícia, as forças armadas, e os aparelhos burocráticos, jurídicos e políticos da velha ordem não podem ser reformados para servir os interesses do proletariado, mas devem ser esmagados e substituídos pela ditadura do proletariado—um governo operário baseado em conselhos de trabalhadores e apoiado pela força armada operária. Tal Estado se defenderia contra os esforços contra-revolucionários da classe governante derrubada para voltar ao poder, e reorganizaria a economia racionalmente. Na medida em que a base econômica das classes sociais desapareça, o Estado operário assumiria cada vez mais uma função puramente administrativa, finalmente desvanecendo-se com o advento do comunismo sem classes. Porem, a realização desta meta necessita a destruição do imperialismo capitalista como sistema mundial e o estabelecimento de uma divisão mundial de trabalho socialista.

O carácter internacional da classe operária dá-lhe potencialmente uma superioridade gigantesca contra a burguesia, já que o capitalismo opera por meio de métodos anárquicos que forçam cada classe capitalista nacional contra as outras e constantemente cria novas disparidades e crises. Para efetuar esta superioridade, o proletariado precisa de um partido internacional para unificar a classe através das divisões nacionais e outras divisões e coordenar as lutas inter-dependentes dos trabalhadores em cada país. Mesmo que a revolução possa começar somente em um país, qualquer vitória parcial será garantida somente com a extensão da revolução a outros países e com o domínio mundial final da organização econômica socialista. Nós lutamos para reforjar a Quarta Internacional, o partido mundial da revolução socialista, cujo programa e propósitos se mantém tão válidos hoje como em sua fundação em 1938.

Um partido leninista não é simplesmente construído através de recrutamento linear, mas mediante rachas baseadas programaticamente com oportunistas, assim como fusões com elementos revolucionários rompendo com o centrismo. Em particular, quando fusões são empreendidas através de fronteiras nacionais um período apropriado de prova é necessário para estabelecer acordo político essencial e sólido. Nós Buscamos amalgamar grupos cuja orientação está na direção da conquista de novas Revoluções de Outubro—somente isso, nada mais, nada menos.

6. O papel de vanguarda da classe operária em defesa de todos os oprimidos

O papel de vanguarda da classe operária é central na perspectiva marxista do socialismo mundial, e particularmente o peso decisivo do proletariado dos países industrializados. Somente a classe operária tem o poder social e o impulso de um interesse objetivo claro, para libertar a humanidade da opressão. Sem ter nada a ganhar com a manutenção da ordem burguesa, sua enorme força baseia-se no seu papel produtivo, em seu número e em sua organização.

O domínio persistente de um punhado de capitalistas é mantido somente por meio da preservação das divisões na classe operária e da confusão da mesma enquanto a sua verdadeira situação. Nos Estados Unidos, a burguesia sucedeu em explorar divisões profundas no proletariado, primeiro em linhas religiosas e étnicas e mais tarde em linhas raciais. Como parte de uma casta oprimida de raça e cor, os trabalhadores Negros são duplamente oprimidos, e requerem formas especiais de luta (por exemplo, organizações de transição como ligas de luta operária/negra). A classe operária só transcende essas divisões por luta e isto é altamente reversível. O socialismo nos Estados Unidos só será realizado pela luta comum dos trabalhadores negros e brancos sob a direção de uma vanguarda revolucionária multirracial.

A questão dos Negros nos EUA é definida pela história particular dos Estados Unidos: escravidão, a derrota da escravatura do Sul na Guerra Civil pelo capitalismo industrial do Norte e a traição da burguesia da promessa de igualdade da Reconstrução Radical levando à segregação racista dos Negros apesar da integração econômica dos operários Negros na parte mais baixa do proletariado. A segregação forçada dos Negros, parte integral do capitalismo americano, tem sido resistida pelas massas negras sempre que a possibilidade de tais lutas tem sido sentida. Consequentemente o nosso programa para os EUA é o integracionismo revolucionário—integração completa dos negros em uma América socialista igualitária—e o nosso programa de “Libertação dos Negros por meio da revolução socialista”.

No decorrer da luta de classes e na medida em que a necessidade econômica demanda, o capitalismo moderno—isto é, o imperialismo—atingindo todas as áreas do planeta, traz novas fontes de mão de obra barata à parte mais baixa do proletariado, principalmente imigrantes de regiões do mundo menos desenvolvidas e pobres—operários com poucos direitos considerados mais descartáveis em tempos de aperto econômico. Deste modo o capitalismo continuamente cria diferentes camadas entre os operários, enquanto simultaneamente amalgama operários de várias terras diferentes. Em todas partes, os capitalistas, auxiliados pelos oportunistas da aristocracia trabalhista, tentam envenenar a consciência de classe e a solidariedade entre os operários, fomentando divisões baseadas em religião e nacionalidade e etnia. A luta para a unidade e integridade da classe operária contra o chauvinismo e o racismo é portanto uma tarefa vital para a vanguarda do proletariado.

Hoje o racismo anti-imigrante caracteriza a política racista/direitista e é um teste rigoroso para o movimento operário e a esquerda, desde a Europa ocidental até a África do Sul e o leste Asiático. A LCI luta contra as deportações—pelo direito de cidadania plena para todos os imigrantes! Pela mobilização de operários/minorias para paralisar os fascistas! Por comitês operários de auto-defesa! Por milícias operárias multi-raciais/multi-étnicas contra a violência comunalista!

Demagogos fascistas exploram para si mesmos o desemprego, a miséria e a insegurança endêmica do sistema capitalista. O terror fascista e os ataques do governo contra os imigrantes e outras minorias oprimidas, somente podem ser combatidos efetivamente a partir da perspectiva da derrubada do sistema capitalista, substituindo-lo com uma economia internacional coletivizada e planejada. Em 1930, quando o Partido Nazista emergiu, sob o impacto da Grande Depressão, como uma ameaça real capaz de tomar o poder na Alemanha, Trotsky escreveu: Os Estados Soviéticos Unidos da Europa, tal é a palavra de ordem justa que oferece uma solução ao espedaçamento da Europa, espedaçamento que ameaça não somente a Alemanha, mas toda a Europa de uma completa decadência econômica e cultural” (“A reviravolta da Internacional Comunista e a Situação na Alemanha”, 26 de setembro de 1930).

A opressão da mulher, jovens, minorias e todos os setores dos oprimidos, deve ser analisada e tratada em cada país para encontrar o ponto mais favorável ao qual aplicar a alavanca marxista. Como Lenin escreveu em Que Fazer? (1902): “...o ideal do social-democrata não deve ser o secretário da trade-união, mas o tribuno popular, que sabe reagir contra toda a manifestação de arbitrariedade e opressão, onde quer que se produza e qualquer que seja a classe ou a camada social atingida; que sabe sintetizar todos estes fatos para traçar um quadro completo da violência policial e da exploração capitalista; que sabe aproveitar a menor ocasião para expor perante todos as suas convicções [socialistas] e as suas reivindicações democráticas, para explicar a todos e a cada um o alcance histórico e mundial da luta emancipadora do proletariado”.

A LCI luta para a libertação da mulher pela revolução socialista. Em países de desenvolvimento capitalista atrasado, a opressão e degradação severa da mulher está profundamente enraizada nas “tradições” pré-capitalistas e no obscurantismo religioso. A luta contra a opressão da mulher nesses países é portanto uma força motora para a luta revolucionária. As condições da mulher nos países capitalistas mais avançados, embora extremamente diferentes, mostram os limites da liberdade e do progresso social sob o capitalismo; os revolucionistas são os defensores mais consistentes dos direitos democráticos elementares da mulher, tais como o aborto legal e gratuito, e o “mesmo pagamento pelo mesmo trabalho”. O clima social reacionário agravado pelo colapso da União Soviética em conjunto com a campanha para destruir as proteções das massas do Estado de assistência social, levou a um crescimento drástico do racismo anti-sexo, anti-mulher e anti-homossexual. Nós opomos todas as leis contra crimes sem vítimas, incluindo aquelas que criminalizam atividades homossexuais ou qualquer outra atividade sexual consensual, prostituição e uso de drogas.

A opressão da mulher, a desigualdade social mais antiga na história da humanidade, vem dos inícios da propriedade privada e não será abolida sem que a sociedade dividida em classes também o seja. A instituição social de opressão da mulher fundamental é a família, cujas funções na criação da próxima geração devem ser superadas com a substituição do trabalho doméstico da mulher por instituições coletivas numa sociedade socialista. Nos baseamos no registro dos bolcheviques no trabalho organizado especial entre mulheres para conquista-las para a causa socialista, descrito nas primeiras edições do jornal da SL/U.S., Women and Revolution [A Mulher e a Revolução].

Enquanto lutamos contra todas as manifestações de injustiça burguesa, nos opomos ao sectoralismo, o qual nega a possibilidade de que a consciência de um indivíduo transcenda a sua própria experiência de opressão, e lutamos para unir a vanguarda de todas as camadas sociais oprimidas atrás do proletariado na luta pelo socialismo.

Abrir o caminho para a juventude! A luta para conquistar uma nova geração de jovens aos princípios e programa trotskistas é chave para a construção do partido proletário revolucionário internacional. Isso incluí não somente a luta para recrutar jovens operários mas também o trabalho entre os estudantes. Constituindo uma camada particularmente volátil da intelligentsia pequeno-burguesa, os estudantes podem tomar um papel ativo nas atividades “radicais” tanto da esquerda como da direita. Nós procuramos conquistar estudantes para o lado da classe operária, reconhecendo como Lenin, que o partido revolucionário é constituído pela fusão de intelectuais revolucionários desclassados com as camadas mais avançadas do proletariado.

Os jovens servem um papel particular como peças sacrificáveis nas guerras e outras aventuras militares dos governantes capitalistas. A nossa oposição ao exército burguês e ao serviço militar obrigatório é anti-tética à dos pacifistas, ou daqueles que procuram uma isenção pequeno-burguesa da obrigação imposta a jovens da classe operária em diversos países. Nós entramos com a nossa classe com o propósito de recrutar soldados proletários para o programa e propósito da revolução comunista. Em uma situação revolucionária nós entendemos que rachar o exército conscrito em linhas de classe é chave para a vitória proletária.

Nós buscamos, com nosso trabalho entre os jovens, recrutar e treinar os futuros quadros do partido revolucionário estabelecendo organizações juvenis de transição que sejam organizacionalmente independentes e politicamente subordinadas ao partido revolucionário.

7. A base burguesa do revisionismo

Na medida que a consciência revolucionária não prevalece entre os operários, a consciência dos mesmos é determinada pela ideologia da classe governante. Objetivamente o capitalismo domina mediante o poder do capital, seu monopólio dos meios de violência, e seu controle de todas as instituições sociais existentes. Mas ele prefere, quando possível, governar com o “consentimento” das massas mediante a dominação da ideologia burguesa entre os oprimidos, alimentando ilusões e escondendo sua essência sangrenta. O nacionalismo, patriotismo, racismo e a religião penetram as organizações operárias centralmente por meio dos “tenentes trabalhistas” pequeno-burgueses—as parasíticas burocracias sindicais social-democratas e de origem stalinista, baseadas na camada mais privilegiada da classe operária. Se não forem substituídos por direções revolucionárias, estes reformistas permitirão que as organizações operárias se tornem impotentes na luta pelas demandas econômicas dos trabalhadores sob condições de democracia burguesa, ou permitirão que essas organizações sejam destruídas por um fascismo triunfante.

Em seu trabalho de 1916 “O Imperialismo, fase superior do capitalismo”, Lenin expôs a base material para o oportunismo da burocracia trabalhista:

“A obtenção de elevados lucros monopolistas pelos capitalistas de um entre muitos ramos da indústria, de um entre muitos países, etc., oferece-lhes a possibilidade econômica de subornarem certos setores operários e, temporariamente, uma minoria bastante considerável destes últimos, atraindo-os para o lado da burguesia desse ramo ou dessa nação, contra todos os outros. O acentuado antagonismo das nações imperialistas pela partilha do mundo aprofunda essa tendência. Assim se cria a ligação entre o imperialismo e o oportunismo.... O maior perigo, neste sentido, são as pessoas [como os mencheviques e Martov] que não querem compreender que a luta contra o imperialismo é uma frase oca e falsa se não for indissoluvelmente ligada à luta contra o oportunismo”.

A degeneração e a capitulação de diversas tendências dentro do movimento marxista tem sido de uma importância fundamental para a preservação da dominação imperialista. Submissão à pressão da sociedade burguesa tem repetidamente empurrado correntes nominalmente marxistas em direção ao revisionismo, o processo da negação da conclusão essencial do marxismo, de que o Estado é um instrumento para o domínio de uma classe. O revisionismo bernsteiniano, menchevismo, stalinismo e sua variante maoista—são todos ilustrações desse processo, o qual constitui uma ponte para práticas abertamente reformistas. Globalmente, além dos stalinistas e dos social-democratas, os nacionalistas e os politicamente religiosos trabalham intensamente para derrubar as lutas operárias.

O centrismo é aquela corrente no movimento operário, teoricamente amorfa e programaticamente heterogênea, que toma muitas tonalidades no espectro político entre o marxismo e o reformismo, entre o internacionalismo revolucionário e o patriotismo social oportunista. Conforme Trotsky notou em seu artigo de 1934, “Centrism and the Fourth International” [Centrismo e a Quarta Internacional]:

“Para um revolucionário marxista a luta contra o reformismo é atualmente quase completamente substituída pela luta contra o centrismo.... A luta contra oportunistas escondidos ou mascarados deve então ser sobretudo transferida para a esfera de conclusões práticas dos requisitos revolucionários” [Tradução do texto em inglês].

Em situações de luta de classes acirrada, os falsificadores centristas que fazem parte da corrente sifilítica mantendo o domínio de classe burguês, tornam-se tanto mais perigosos como mais vulneráveis à exposição revolucionária. A vanguarda trotskista revolucionária crescerá às custas dos nossos adversários centristas, ou vice-versa. O resultado desse confronto entre marxistas e centristas é o fator crucial no sucesso ou fracasso da revolução.

Foi o horrível espetáculo reformista da social-democracia e do stalinismo que causou o renascimento do anarquismo, uma ideologia anti-marxista baseada no idealismo democrático radical que foi deixada em agonia nos primeiros anos deste século pelo marxismo revolucionário dos bolcheviques. Similarmente o renascimento de ondas sindicalistas anti-políticas entre membros de sindicatos se deve ao seu nojo do comportamento de todos os antigos “socialistas” parlamentares; mas essa retirada à luta econômica “pura” somente permite que a luta militante se desgaste sem nunca realmente desafiar os traidores reformistas.

8. A Luta contra a guerra imperialista

Leon Trotsky codificou em seu documento de 1934: “War and the Fourth International” [A Guerra e a Quarta Internacional], o programa de oposição proletária internacionalista às guerras inevitavelmente engendradas pelo capitalismo em declínio. Trotsky nota: “A transformação da guerra imperialista em uma guerra civil é aquela tarefa estratégica geral baixo a qual todo o trabalho de um partido proletário deve ser subordinado durante guerras” [Tradução do texto em inglês]. Em guerras inter-imperialistas como a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial, e em outras guerras entre dois Estados capitalistas equivalentemente desenvolvidos, o nosso princípio básico é o derrotismo revolucionário: oposição irreconciliável ao massacre capitalista e o reconhecimento que a derrota da burguesia de um proletariado dado é o menor mal para tal proletariado. Conforme Wilhelm Liebknecht disse, “Nem um homen nem um centavo” para o militarismo burguês.

Em guerras de depredação imperialista contra nações coloniais, semi-coloniais ou dependentes, o dever do proletariado em cada país é de ajudar as nações oprimidas contra os imperialistas, enquanto isso mantendo independência política completa das forças nacionalistas burguesas e pequeno- burguesas.

O proletariado deve prover a defesa militar incondicional aos Estados operários deformados da China, Vietnã, Coréia do Norte e Cuba, contra o imperialismo. Nossa posição flui do caráter de classe proletário desses Estados, manifestado nas relações de propriedade coletivizadas—propriedade nacionalizada, economia planejada, monopólio do comércio exterior e da atividade bancária, etc.—estabelecido por revoluções sociais que destruíram o capitalismo. Apesar das deformações burocráticas desses Estados, nossa defesa dos mesmos contra a classe inimiga é incondicional, ou seja, não depende da derrubada prévia das burocracias stalinistas, nem tampouco depende das circunstâncias e causas imediatas do conflito.

O impulso à guerra imperialista é inerente ao sistema capitalista. Os ideólogos da “globalização” de hoje, estão projetando uma visão falsa de que os interesses rivais das nações-Estado em competição foram superados neste período pós-soviético. Isto não é nada mais que uma nova forma da teoria “ultra-imperialista” de Karl Kautsky. Conforme Lenin escreveu em O Imperialismo, fase superior do capitalismo (1917):

“Comparai esta realidade—a variedade gigantesca de condições econômicas e políticas, a desproporção extrema na rapidez de desenvolvimento dos diferentes países, etc., a luta furiosa entre os Estados imperialistas—com a ingênua fábula de Kautsky sobre o ultra-imperialismo ‘pacífico’.... Será que o capital financeiro americano e o de outros países, que dividiram pacificamente entre eles todo o mundo, com a participação da Alemanha, por exemplo, no sindicato internacional dos carris de ferro ou no trusti internacional da marinha mercante, não redividem hoje em dia o mundo com base na nova correlação de forças, correlação que se modifica de uma maneira que nada tem de pacífica?”

9. A questão nacional e o direito de auto-determinação de todas as nações

Conforme Trotsky escreveu em “War and the Fourth Inter national” [A Guerra e a Quarta Internacional] (10 de junho de 1934):

“Tendo usado a nação para seu desenvolvimento, o capitalismo não resolveu completamente, em lugar nenhum, em nenhuma esquina do mundo o problema nacional”. [Tradução do texto em inglês]

O direito de auto-determinação aplica-se a todas as nações. A luta da direção proletária pela auto-determinação das nações oprimidas é uma ferramenta poderosa para destruir o controle que os dirigentes nacionalistas pequeno-burgueses têm sobre as massas. A LCI defende a polêmica de Lenin (O direito das Nações disporem de si próprias, fevereiro-maio de 1914) na qual Lenin declara: “Os interesses da classe operária e da sua luta contra o capitalismo exigem uma solidariedade completa e a mais estreita unidade dos operários de todas as nações; exigem que uma réplica seja infligida à política nacionalista da burguesia de qualquer nacionalidade que seja”.

Nós defendemos o argumento de Lenin que: “Em todos os casos o operário assalariado sofrerá a exploração e, para a combater com sucesso, é preciso que o proletariado seja estranho a todo o nacionalismo, que os proletários sejam por assim dizer inteiramente neutros na luta da burguesia das diferentes nações pela supremacia. O menor apoio concedido pelo proletariado de uma nação qualquer aos privilégios da ‘sua’ burguesia nacional provocará inevitavelmente a desconfiança do proletariado doutra nação, enfraquecerá a solidariedade internacional de classe dos operários, desuni-los-á para maior alegria da burguesia. Ora, negar o direito de livre determinação ou de separação conduz inevitavelmente, à prática, a manter os privilégios da nação dominante”.

Contudo, quando a reivindicação particular pela auto-determinação nacional—uma demanda democrática—entra em contradição com questões de classe ou com as necessidades gerais da luta de classes, nós opomos sua aplicação. Tal como Lenin observou em “The Discussion on Self-Determination Summed Up” [O balanço da discussão sobre a auto-determinação] (Julho de 1916): “As muitas reivindicações de democracia, incluindo a de auto-determinação, não são algo absoluto, mas sim uma pequena parte de todo o movimento democrático (agora: geral-socialista) mundial. Em casos individuais concretos, a parte pode contradizer o todo; assim sendo, deve ser rejeitada” [Tradução do texto em inglês]. Lenin apoiou fortemente o direito de auto-determinação da Polônia, argumentando seu ponto contra outros socialistas revolucionários como Rosa Luxemburg. Mas, no contexto particular da Primeira Guerra Mundial, Lenin argumentou: “Os social-democratas poloneses não podem, neste momento, evocar a palavra de ordem de independência para a Polônia, para os poloneses, pois como proletários internacionalistas, não podem fazer nada sobre isto sem cair, como o ‘Fracy’ [social-chauvinista], na mais humilde servidão a uma das monarquias imperialistas” [Tradução do texto em inglês].

Em nossa analise sobre a interpenetrações de dois ou mais povos reivindicando o mesmo território, a LCI é guiada pela prática e experiência dos bolcheviques, em particular pelas discussões sobre a Ucrânia no segundo congresso da Internacional Comunista. A LCI elaborou sobre esta posição em relação ao Oriente Médio, Chipre, Irlanda do Norte e a antiga Iugoslávia. Em situações como essas, sob o capitalismo—onde o poder do Estado é necessariamente dominado por uma só nação—o direito democrático de auto-determinação nacional não pode ser conquistado para um povo sem violar os direitos nacionais do outro. Consequentemente esses conflitos não podem ser imparcialmente resolvidos dentro dos limites de uma estrutura capitalista. O prerrequisito para uma solução democrática é a varrida de todas as burguesias da região.

10. A revolução colonial, revolução permanente e a “via guerrilheira”

As experiências desde a Segunda Guerra Mundial confirmaram completamente a teoria trotskista da revolução permanente, a qual declara que na época imperialista a revolução democrático-burguesa só pode ser completada por uma ditadura proletária apoiada pelo campesinato. Somente sob a direção do proletariado revolucionário é que os países coloniais e semi-coloniais podem obter a emancipação nacional genuína. Para abrir o caminho ao socialismo a extensão da revolução aos países capitalistas avançados é necessária.

A própria Revolução de Outubro contradisse a idéia da revolução etapista dos mencheviques; os mencheviques propuseram um bloco político com o Partido Cadet liberal para colocar a burguesia no poder. “A idéia menchevique de união entre o proletariado e a burguesia, significou na verdade a submissão dos trabalhadores assim como dos camponeses aos liberais.... Em 1905 os mencheviques meramente não tiveram a coragem de tomar as necessárias conclusões de sua teoria de revolução ‘burguesa’. Em 1917, perseguindo suas idéias até o amargo fim, eles quebraram o pescoço” (Trotsky, “Three Concepts of the Rússian Revolution”, [Os Três Conceitos da Revolução Russa], primeiramente publicado em 1942 [Tradução do texto em inglês]).

Os bolcheviques de Lenin estavam mais próximos da visão de Trotsky visto que insistiam que a burguesia russa era incapaz de dirigir uma revolução democrática. Os bolcheviques manifestaram-se por uma aliança entre a classe operária e o campesinato, culminando na “ditadura democrática do proletariado e do campesinato”, uma palavra de ordem defeituosa projetando um Estado defensor dos interesses de duas classes diferentes. Em 1917 seguindo a Revolução de Fevereiro, foi necessária uma luta acirrada dentro do Partido Bolchevique para que a linha política pela ditadura do proletariado das “Teses de Abril” de Lenin prevalecesse. Contudo, o fato que o Partido Bolchevique não reconheceu explicitamente a vindicação da teoria da revolução permanente de Trotsky pela Revolução Russa e não repudiou explicitamente a “ditadura democrática do proletariado e do campesinato”, tornou-se então um canal para as forças que mais tarde colocaram-se como os bolcheviques da “velha guarda” (ex. Stalin), atacarem Trotsky, a teoria da revolução permanente e as implicações e premissas internacionalistas e revolucionárias da Revolução Bolchevique.

Trotsky escreveu em sua introdução à edição Alemã de A Revolução Permanente de 29 de março de 1930:

“Querendo encontrar os motivos econômicos do internacionalismo, Stalin não fez senão motivar, na realidade, o socialismo nacional. Não é verdade que a economia mundial represente apenas a simples soma de frações nacionais uniformes. Não é verdade que os traços específicos não passem de um ‘complemento dos traços gerais’, uma espécie de verruga no rosto. Na realidade, as particularidades nacionais formam a originalidade dos traços fundamentais da evolução mundial”.

Em A Revolução Permanente (30 de novembro de 1929) Trotsky explicou:

“Nas condições da época imperialista, a revolução nacional-democrática só pode ser vitoriosa quando as relações sociais e políticas do país estejam maduras para levar o proletariado ao poder, como chefe das massas populares. E quando as coisas não tiverem chegando a esse ponto? Nesse caso, a luta pela libertação nacional só dará resultados incompletos e nefastos para as massas trabalhadoras”.

“Um país atrasado colonial ou semi-colonial, cujo proletariado não esteja bastante preparado para conduzir o campesinato e conquistar o poder é, por isso mesmo, incapaz se levar a bom termo sua revolução democrática”.

O caráter parcial das revoluções anti-capitalistas no mundo colonial leva-nos a reafirmar o conceito marxista-leninista do proletariado como a única força social capaz de fazer a revolução socialista. A LCI se opõe fundamentalmente a doutrina maoista, enraizada no menchevismo e no reformismo stalinista, que rejeita o papel vanguarda da classe operária e substitui-lo pela guerrilha baseada no campesinato como caminho ao socialismo.

A nossa compreensão da revolução cubana (veja Marxist Bulletin Nº8, “Cuba and Marxist Theory” [Cuba e a Teoria Marxista]) foi uma contribuição da Liga Internacional Comunista para uma extensão adicional do marxismo ao analisar o stalinismo, que retrospectivamente iluminou o curso das revoluções iugoslava e chinesa. Em Cuba, um movimento pequeno-burguês em circunstâncias excepcionais—a ausência da classe operária como contendor ao poder social em seu próprio direito, a fuga da burguesia nacional, um cerco imperialista hostil, e a ajuda vital dada pela União Soviética—derrubou a velha ditadura de Batista e finalmente destruiu as relações de propriedade capitalistas. Mas o castrismo (ou qualquer outro movimento de guerrilha baseado no campesinato) não pode levar a classe proletária ao poder político.

Sob as mais favoráveis circunstâncias históricas concebíveis, o campesinato pequeno-burguês foi capaz de criar somente um Estado operário deformado burocraticamente, isto é, um Estado da mesma ordem do que descendeu da contra-revolução política de Stalin na União Soviética, um regime anti-operário que bloqueou as possibilidades de extender a revolução social para a América Latina e América do Norte, e privou Cuba de maiores desenvolvimentos na direção do socialismo. Levar a classe operária ao poder político e abrir o caminho para o desenvolvimento socialista requer uma revolução política suplementar, dirigida por um partido trotskista. Com a destruição do Estado operário degenerado soviético e consequentemente sem nenhuma ajuda disponível contra o cerco imperialista, a limitada abertura histórica em que as forças pequeno-burguesas foram capazes de derrubar regimes capitalistas locais foi fechada, ressaltando a perspectiva trotskista da revolução permanente.

11. A frente popular: não uma tática, mas o maior crime

Desde a Espanha em 1936 até o Chile 1973, oportunidades amadurecidas para a revolução proletária têm sido derrubadas pelo mecanismo da frente popular, o qual amarra os explorados aos seus exploradores, e abre o caminho para ditaduras fascistas e bonapartistas. Leon Trotsky afirmou: “Ao alcamar os operários e camponeses com ilusões parlamentares, ao paralisar suas intenções de luta, a Frente Popular cria condições favoráveis para a vitória do fascismo. A política de alianças com a burguesia deve ser paga pelo proletariado com anos de novas tormentas e sacrifícios, se não por décadas de terror fascista” (“The New Revolutionary Upsurge and the Tasks of the Fourth International” [A Nova Revolta Revolucionária e as Tarefas da Quarta Internacional], julho de 1936 [Tradução do texto em inglês]).

Como Lenin e Trotsky a LCI se opõe em princípio a qualquer aliança com partidos capitalistas (“frentes populares”) seja no governo ou em oposição, e nos opomos ao voto para partidos operários em frentes populares. Governos parlamentares formados por partidos operários reformistas (“partidos operários burgueses” conforme definido por Lenin), são governos capitalistas administrando o regime capitalista (por exemplo, os muitos governos do Partido Trabalhista na Grã-Bretanha). Em casos onde um partido operário de massa reformista apresenta-se como representante dos interesses da classe operária independente de, e contra, os partidos da burguesia, a aplicação da tática de apoio crítico (“assim como uma corda apóia um homen enforcado”) pode ser adequada para os revolucionários. Tal apoio eleitoral crítico serve como um veículo para revolucionistas exacerbarem as contradições entre a base proletária de tal partido e a sua direção pró-capitalista. Porém, mesmo a inclusão de pequenas formações políticas não-proletárias (tais como liberais ou eco-maníacos “Verdes” no Ocidente, ou nacionalistas burgueses) agem como uma garantia do programa burguês, suprimindo tal contradição.

A “frente única anti-imperialista” é a forma particular que a colaboração de classes assume frequentemente em países coloniais e ex-coloniais, desde a liquidação do Partido Comunista Chinês dentro do Quomintang de Chiang Kai-shek nos anos 20 até as décadas de prostração da “esquerda” da África do Sul ante o Congresso Nacional Africano (ANC), que veio a ser a façada patrocinada pelo imperialismo para o capitalismo do neo-aparteid. Hoje, na América Latina, o nacionalismo “anti-yankee” é a ferramenta principal pela qual operários militantes e camponeses insurgentes são induzidos a colocar suas esperanças nos burgueses “radicais”. O programa de Trotsky da revolução permanente é a alternativa à confiança em fantasias apoiadas na burguesia atrasada e dependente do imperialismo de um país oprimido, como o veículo para a libertação.

12. O partido revolucionário: seu programa, organização, e disciplina

“A revolução proletária não pode triunfar sem o Partido, contra o Partido ou através dum sucedâneo dele” (Leon Trotsky, As Lições de Outubro [1924]). Nós lutamos para construir o partido revolucionário, o instrumento para trazer a consciência política ao proletariado, procurando transformar-se na principal força ofensiva e direcional com a qual a classe operária faz e consolida a revolução socialista. Nosso objetivo é um alto comando revolucionário, cujos quadros dirigentes devem ser treinados e postos à prova na luta de classes. O partido luta para ganhar a direção da classe na base de seu programa e determinação revolucionária; procura entender todo o passado para avaliar a situação presente. O desafio é reconhecer e corajosamente responder ao momento revolucionário quando este apareça, aquele momento em que as forças do proletariado estão mais confiantes e preparadas e as forças da velha ordem mais desmoralizadas e desorganizadas. Em tal partido revolucionário estão cristalizadas as aspirações das massas em obter sua liberdade; simboliza seus desejos revolucionários e será o instrumento para sua vitória.

Conforme Trotsky escreveu no “Programa de Transição”:

“A tarefa estratégica do próximo período—período pré-revolucionário de agitação, propaganda e organização—consiste em superar a contradição entre a maturidade das condições objetivas da revolução e a imaturidade do proletariado e de sua vanguarda (confusão e desapontamento da velha geração, falta de experiência da nova). É necessário, no processo de suas lutas cotidianas, ajudar as massas encontrarem a ponte entre suas reivindicações atuais e o programa socialista da revolução. Esta ponte deve incluir um sistema de reivindicações transitórias, que parta das condições atuais e da consciência atual de largas camadas da classe operária e conduza, invariavelmente, a uma só e mesma conclusão: a conquista do poder pelo proletariado”.

O partido vanguarda deve dedicar a mesma atenção consciente à questão da direção do partido como o partido dedica a lutar pela consciência dos trabalhadores mais avançados. Em “The Mistakes of Rightist Elements of the Communist League on the Trade Union Question” [Os Erros dos Elementos Direitistas da Liga Comunista sobre a Questão dos Sindicatos] (4 de janeiro de 1931), Trotsky escreveu:

“Quaisquer que sejam as fontes sociais e causas políticas dos erros e desvios oportunísticos, elas sempre se reduzem ideologicamente a uma compreensão errônea do partido revolucionário, de sua relação para com outras organizações proletárias e para com a classe como um todo” [Tradução do texto em inglês].

A frente única é uma tática elementar especialmente em períodos de instabilidade tanto para mobilizar a ampla massa em luta por uma demanda comum quanto para fortalecer a autoridade do partido de vanguarda dentro da classe. A fórmula de “marchar separados, golpear juntos” significa ação unificada em defesa dos interesses operários, e ao mesmo tempo permitindo o choque de opiniões competidoras no contexto de uma experiência política comum.

A tática comunista da frente única permite à vanguarda abordar organizações distintas e normalmente hostis para uma ação comum. Ela está contraposta à “frente única desde baixo” do “Terceiro Período” stalinista que requer a união com “as bases” contra seus dirigentes, fortalecendo demarcações organizacionais e impedindo ação conjunta. A frente única requer “liberdade completa de crítica”—isto é, os participantes podem apresentar suas próprias palavras de ordem e sua própria propaganda.

O carimbo oficial da retirada dos propósitos revolucionários, é a prática de blocos de propaganda: a subordinação do programa proletário aos oportunistas em nome da “unidade”. Um propósito similar é cumprido pela idéia de uma “frente única estratégica” que transforma a frente única em uma esperada “aliança” contínua sobre um programa de menor denominador comum. Assim como contra tais esquemas, o partido revolucionário não pode ser construído sem uma luta pela claridade política e a exposição inexorável de forças reformistas e especialmente centristas.

A LCI segue os princípios e a história da International Labor Defense [Defesa Operária Internacional] (ILD), o braço americano da antiga Ajuda Vermelha Internacional do Comintern. Nós procuramos dar continuidade à tradição da ILD de trabalho não sectário, partidário de defesa da luta de classes, defendendo militantes lutadores pela classe operária e oprimidos independente de suas visões políticas. Embora utilizando todos os direitos democráticos disponíveis do sistema legal burguês, nós procuramos mobilizar grandes protestos centrados no proletariado, colocando toda a nossa convicção no poder das massas e nenhuma convicção na “justiça” dos tribunais burgueses. O maior obstáculo para restaurar as tradições de solidariedade operária são as práticas infames das organizações social-democratas e stalinistas: violência dentro do movimento operário, difamação de oponentes, e manobras manipulativas de “grupos de frente”.

O princípio organizacional dentro da Liga Comunista Internacional é o centralismo democrático, um balanço entre democracia interna e disciplina funcional. Como uma organização de combate, a vanguarda revolucionária deve ser capaz de levar a cabo ações unificadas e decisivas na luta de classes em qualquer momento. Todos os membros devem ser mobilizados para efetuar as decisões da maioria; autoridade deve ser centralizada em sua direção eleita que interpreta taticamente o programa da organização. A democracia interna permite a determinação coletiva da linha do partido em acordo com as necessidades sentidas pelas bases do partido, as quais estão mais perto da classe como um todo. O direito de democracia faccional é vital para um movimento vivo; a existência real desse direito ajuda a canalizar as diferenças em meios de resoluções menos cativantes.

A disciplina da Liga Comunista Internacional (Quarta Internacionalista) flui do seu programa e propósito, a vitória da revolução socialista e a libertação de toda a humanidade.

13. Nós interviremos para mudar a história!

“O marxismo não é um dogma, mas um guia para ação”. A Liga Comunista Internacional (Quarta-Internacionalista) está na vanguarda da luta para um futuro socialista. A LCI é a única organização internacional que presentemente tem a concepção correta da situação mundial e das tarefas encarando o proletariado mundial. A discrepância entre nossa pequena militância e o poder do nosso programa é enorme. Atualmente as seções da LCI são ou têm o objetivo de ser grupos de propaganda lutadores. Nossa tarefa imediata é a educação e formação de quadros, recrutando as camadas mais avançadas dos operários e jovens, conquistando-os para o nosso programa completo por meio da explicação das nossas visões em contraposição acirrada àquelas dos nossos adversários centristas. Regrupamentos revolucionários baseados no programa do internacionalismo leninista são os meios para resolver a desproporção entre as nossas pequenas forças e a nossa tarefa.

Como os bolcheviques de Lenin, nosso objetivo é amalgamar elementos proletários e intelectuais, especialmente mediante o desenvolvimento e a luta de frações comunistas industriais. Por meio de literatura propagandística podemos educar os primeiros quadros, mas não podemos agrupar a vanguarda operária que não vive em um círculo nem em uma sala de aula, mas em uma sociedade de classes, em uma fábrica, nas organizações de massas, uma vanguarda com a qual precisamos saber como falar no idioma de suas experiências. Mesmo os quadros propagandistas mais preparados, inevitavelmente desintegra-se-ão se não acharem contato com as lutas diárias das massas.

O trabalho comunista nos sindicatos deve ser orientado a conquistar a base, e não a blocos sem princípios e a manobras no topo dos mesmos. A luta pela independência completa e incondicional dos sindicatos em relação ao Estado capitalista é absolutamente essencial. O uso das cortes burguesas contra adversários políticos nos sindicatos ou no movimento operário é uma violação do princípio de independência proletária e um ataque contra a força do movimento operário. Convidar a classe inimiga para intervir nos assuntos internos do sindicato fomenta ilusões na democracia burguesa ao pintar o Estado como elemento “neutro” entre as classes. Os policiais não são “operários em uniformes”, mas sim o braço armado do Estado capitalista; eles não pertencem nas organizações operárias. A LCI luta pela “Polícia fora dos sindicatos”. A nossa luta pelo princípio de independência proletária em relação ao Estado é ressaltada pela tendência apontada por Trotsky em seu ensaio inacabado de 1940, “Os Sindicatos na época da Decadência Imperialista”, dos sindicatos reformistas a tornarem-se cada vez mais entrelaçados com o Estado.

Os comunistas procuram construir a unidade mais forte possível da classe operária contra os exploradores capitalistas; por isso nós opomos divisões por profissão no proletariado, lutamos por um sindicalismo industrial, e opomos a separação da classe operária em sindicatos concorrentes baseados em tendências políticas ou grupos étnicos diferentes. Em contraste, a tarefa da vanguarda comunista é de esclarecer e acirrar as diferenças entre as tendências políticas concorrentes para agregar os quadros de um partido leninista. No tempo de Lenin essas tarefas foram refletidas em diferentes formas organizacionais: o Comintern composto pelas organizações partidárias representando o programa político bolchevique único e o Profintern representando a luta pela unidade da classe operária nos sindicatos.

Nós acreditamos que reforjar uma Quarta Internacional comunista, composta por partidos autenticamente comunistas em todos os continentes habitados, e testados em intervenções eficazes na luta de classes, será uma tarefa árdua e frequentemente perigosa. O futuro para toda a humanidade depende na construção, por parte das forças atualmente pequenas que seguem o programa revolucionário de Lenin e Trotsky, de partidos com a experiência, força de vontade e autoridade entre as massas para dirigir revoluções proletárias vitoriosas. Porém, enquanto procuramos disseminar este programa entre os operários e oprimidos do mundo, devemos reconhecer que uma classe imperialista governante irracional com a tecnologia para um holocausto nuclear reduz as possibilidades: nós não temos muito tempo.

Nós somos guiados pelas normas e práticas de camaradas tais como Lenin e Trotsky:

“Encarar a realidade de frente; e não procurar a linha de menor resistência; chamar as coisas pelos seus nomes corretos; falar a verdade para as massas, por mais amarga que seja; não ter medo dos obstáculos; ser verdadeiro tanto em pequenas como em grandes coisas; basear nosso programa na lógica da luta de classes; ser audacioso quando a hora de ação chegue—essas são as regras da Quarta Internacional” (“The Death Agony of Capitalism and the Tasks of the Fourth International” [A angústia mortal do capitalismo e as tarefas da Quarta Internacional], 1938 [Tradução do texto em inglês]).

Essas são as regras da Liga Comunista Internacional (Quarta-Internacionalista) enquanto avançamos na tarefa histórica de dirigir a classe operária à vitória do socialismo mundial!

—Fevereiro 1998

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